—
Ela está acordando, Dr.
Essa
foi a primeira frase que ouviu antes mesmo de abrir os olhos. Aos
poucos os sentidos voltavam. Abrindo os olhos lentamente percebeu um
teto branco e uma luz que a ofuscou por alguns segundos. Devagar
olhou em direção a voz que ouvira. Pode visualizar uma enfermeira
ao lado de um homem de branco que a olhava com um misto de
curiosidade e preocupação.
—
Onde... Onde estou? – perguntou ainda com um
pouco de dificuldade em falar.
—
Você está no hospital. Você sofreu um
acidente...
Enquanto
o médico falava apenas as palavras “carro” e “alta velocidade”
chegaram de fato aos seus ouvidos. Por alguma razão se sentia
confusa. Alguma coisa havia mudado.
—
Então, pode me dizer o seu nome?
—
Nome? – perguntou um pouco confusa.
—
Você não se lembra do seu nome? – perguntou o
médico a olhando com um misto de preocupação e curiosidade em sua
voz.
Era
isso. Ela não lembrava. Mas, era tão confuso. Tentou vasculhar
dentro de sua própria mente. Era como se não houvesse nada lá. Não
havia memórias.
—
Você não se lembra do seu nome? – perguntou o
médico mais uma vez.
Ela
balançou a cabeça negativamente.
O
médico a olhou franzindo a testa por um momento.
—
Não se preocupe. Em geral depois de uma batida
tão forte, as pessoas podem ter amnésia. Mas, a amnésia nesses
casos tem curta duração.
O
médico saiu junto com a enfermeira, deixando-a sozinha.
Amnésia,
pensou. Então, era assim que era ter amnésia. Tentou levantar-se,
mas o que conseguiu foi apenas sentar-se no leito. Olhou para a
condição do seu corpo. Não havia muitos ferimentos, apenas uma
perna engessada e arranhões pelo braço. Esforçou-se mais uma vez
tentando lembrar o que acontecera, mas não se lembrava de nada
referente a qualquer acidente de carro, ou até mesmo qualquer
lembrança anterior a isso.
De
repente a porta abriu, e um homem aparentemente jovem entrou no
quarto fechando a porta com cuidado. Durante alguns segundos seus
olhos se encontraram.
—
Quem é você? – ela perguntou um pouco
desconfortável.
Havia
algo naquele homem que não gostava. Alguma coisa que causava uma
estranha sensação de ficar longe dele. Ele pareceu um pouco
desconfortável por um segundo. Seria talvez por que sem querer ela
havia deixado transparecer o que pensara?
—
Quem é você? – ela perguntou novamente com
certo nervosismo em sua voz.
Ele
sorriu calmamente.
Aquele
sorriso. Ela não gostava daquele sorriso. Estaria aquele homem
envolvido com seu acidente? Por que não conseguia se lembrar? Sentiu
a cabeça rodar. Deitou-se não se sentindo muito bem.
O
homem se aproximou rapidamente.
—
Você está bem? – disse pegando em seu braço.
Ela
se desvencilhou rapidamente, evitando o contado.
—
Por favor, não toque em mim... – disse virando
o rosto para não olhá-lo.
O
homem ficou calado. Que expressão ele estaria fazendo? Estaria com
raiva? Por que sentia aquilo? Queria que ele fosse embora. Queria que
alguém chegasse. Sentia que corria perigo. De repente a porta abriu.
Ela percebeu que o médico entrara.
–
Ah... Então você resolveu entrar? – disse
falando com o homem “desconhecido”.
— Já
estou de saída. – disse olhando para a paciente.
Ela
desviou o olhar novamente.
—
Quem é ele? – perguntou ela ao médico logo que
ele saiu.
—
Não sei exatamente... Parece que foi uma das
pessoas que a trouxe para o hospital.
Aquela
sensação. Que sensação era aquela? Não sabia ao certo, mas tinha
certeza de uma coisa.
—
Não gosto dele.
Juliana
Sousa, Fortaleza - CE